Um Faquir em Porto Alegre
Durante um período do ano de 1949, em Porto Alegre, não se falava em outra coisa. Naquela época, um faquir chamado Silki desafiou a incredulidade da população da Capital. Ficou exposto numa casa pré-fabricada em plena Avenida Borges de Medeiros, dentro de uma urna de vidro lacrada, deitado em sua desconfortável cama de pregos – e ainda por cima manteve um jejum de 20 dias e 20 noites. Um daqueles alto-falantes em forma de corneta convidava os passantes a vê-lo em troca de um troco.
Ao fim da exitosa jornada de abstinência, ele ainda se submeteu a uma severa prova adicional. Diante da plateia, teve seu abdômen trespassado por uma espada. Foi um desastre. Por inabilidade do auxiliar, o intestino de Silki foi atingido, e ele, vítima de violenta hemorragia, saiu numa ambulância direto para o Pronto Socorro.
Ele sobreviveu ao acidente de trabalho para contar ao repórter da Revista do Globo, Ivar Feijó, sua trajetória. Filho de pai português – que casou em Goa, na Índia, com sua mãe –, Silki nasceu em São Francisco de Paula, quando o casal veio para o Brasil. Batizado como Avelino João da Silva, aprendeu, no país da mãe, quando esta levou-o para lá, os mistérios do “domínio da vontade sobre o corpo e a dor”. Depois de sair da Índia, peregrinou pela Europa fazendo demonstrações das suas novas habilidades. A crise provocada pela II Guerra trouxe-o de volta ao Brasil. Tinha sido um tempo danado. “Lá, não ganhava o suficiente nem para comer” revelou o jejuador.
FONTE: Jornal Zero Hora, de 28 de junto de 2012.