O Castelo do Alto da Bronze
“Um castelo de pedras, um homem apaixonado e uma mulher bonita: misture tudo e escreva uma história de amor. Parece fácil, não? E até poderia ser, se se tratasse unicamente de ficção. Mas estes são elementos reais de um romance tão verdadeiro e táctil quanto a edificação de estilo medieval que ainda desperta a curiosidade dos passantes de Porto Alegre. O Castelinho do Alto da Bronze mantem-se belo e imponente por fora, mas no interior de suas paredes sólidas transitam insondáveis fantasmas de um passado não muito distante.” Trecho do livro A Prisioneira do Castelinho do Alto da Bronze, de Juremir Machado da Silva.
Construído em estilo medieval na década de 1940, no Centro da cidade, especialmente para abrigar uma jovem e seu companheiro, um rico médico e político, 22 anos mais velho. Segundo a versão da personagem, por ciúmes ele não a deixava sair. Prisioneira durante quatro anos, ela teria fugido depois de ser ameaçada de morte.
Nilza Linck
Nilza Linck retorna à velha casa mais de 50 anos depois. A expressão é tão serena, e a fala, tão tranquila que nem parece que a senhora de 86 anos que adentra o Castelinho do Alto da Bronze é Nilza Linck.
Nilza é a própria musa para quem a bizarra edificação medieval foi construída, no fim dos anos 1940, em pleno Centro de Porto Alegre. Conheceu Carlos Eurico Gomes, afamado político da época, ainda no início daquela década, quando tinha 18 anos. Já era mãe de um garoto e, como costumava-se dizer, com certo espanto quando se tratava de mulher tão jovem, “desquitada”.
A paixão, da parte dele, fora tão fulminante que o homem não apenas construiu um castelo para ela (precisamente na esquina das ruas Vasco Alves e Fernando Machado) como fez de Nilza a sua Rapunzel, mantendo-a durante quatro anos sob uma vigilância tão rígida que a impedia de se aproximar das janelas do prédio.
– Que coisa boa poder olhar para fora – ela diz, debruçada sobre o parapeito de uma das aberturas do castelinho. – Como eu tinha vontade de fazer isso naquele tempo e não podia. Qualquer movimento meu era motivo para despertar ciúmes nele. Chegava a vir com o revólver para cima de mim. Isso que, como só fui descobrir mais tarde, ele era casado. Não dei sorte com os homens.
A história de Nilza Linck está no livro A Prisioneira do Castelinho do Alto da Bronze (Artes & Ofícios, 1993), que o jornalista Juremir Machado da Silva escreveu a partir de depoimentos da própria prisioneira: Carlos Eurico Gomes, 40 anos, abandonou a primeira mulher (Ruth Caldas) e suas três filhas para viver no castelo que construiria, em pleno Centro de Porto Alegre, com Nilza, 18 anos, e seu filho pequeno. Apaixonado por edificações medievais erguidas em pedra, o homem concebeu o prédio do Alto da Bronze depois de pesquisar os castelos de séculos passados. O amor, no entanto, durou pouco: depois de quatro anos de convivência (de 1948 a 1952), cansada dos ciúmes de Carlos Eurico, Nilza resolveu deixá-lo. Inicialmente o castelinho ficou para ele e sua nova esposa, Nélida. Mas em seguida acabou vendido e transformado em, entre outras coisas, uma boate. Nilza ainda teria outros dois relacionamentos. Além do primeiro filho, adotou uma menina, Fátima, com quem mora hoje.
FONTES:
Jornal Zero Hora de 26 de agosto de 2009 – Daniel Feix
http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/noticia/2009/08/lenda-urbana-a-prisioneira-do-castelo-do-alto-da-bronze-mais-de-meio-seculo-depois-2631330.html