Os Bondes de Porto Alegre
Em meados do século XIX, não havia transporte coletivo, pois a nossa cidade, incipiente, era restrita a um raio de aproximadamente 1,5 Km, onde se destacava a linha de trincheiras e fortificações que serviram de defesa durante a Revolução Farroupilha. 1
No mapa de 1865 2 pode-se notar o aparecimento da Rua 7 de Setembro, da Casa de Correção, a Praça da Harmonia e do Mercado público, em área tomada do Guaíba, porém mantendo o mesmo raio de 1,5 Km.
A expansão da cidade, aconteceu primeiramente no sentido da radial leste em direção ao Caminho Novo (hoje Av. Voluntários da Pátria) 3
Antes do estabelecimento das linhas dos bondes um exótico carro chamado maxambombas fazia o transporte de pessoas entre a cidade e o Menino Deus.
A história dos bondes em Porto Alegre começou em 19 de junho de 1872, ano em que a cidade completou cem anos e que marca a fundação da Companhia Carris de Ferro Porto-Alegrense. Em janeiro do ano seguinte (04 Jan 1873) aconteceu a primeira viagem de um bonde da Carris em Porto Alegre, na linha Menino Deus.
Nas primeiras linhas de bondes os carros eram tracionados por mulas. A imagem abaixo, feita por volta de 1880 registra a passagem de um bonde pela Avenida Venâncio Aires.
Os Bondes Elétricos
Porto Alegre reuniu um dos maiores acervos de bondes elétricos antigos em circulação no apogeu da oferta desse transporte. O site da Carris refere que no tempo “áureo dos bondes, décadas de 50 e 60, a Carris chegou a possuir 229 carros – 130 norte-americanos, 89 ingleses e 10 belgas – transformando Porto Alegre na cidade com o maior acervo de bondes antigos em operação no mundo.”
Em 22 de agosto de 1906 foram comprados os primeiros 37 (trinta e sete) bondes6 elétricos da United Electric Co. em Preston, Inglaterra; 35 (trinta e cinco) pequenos e 2 (dois) com dois andares.
No período compreendido entre 1909 a 1920 foram recebidos7 da United Electric cinquenta carros: 8 (oito) pequenos abertos, 40 (quarenta) maiores fechados e de 2 (dois) andares.
Da Ateliers de Construction Energie, de Marcinelle, Bélgica, foram comprados em 1920 10 (dez) bondes e em 1928 chegaram 20 (vinte) carros da J. G. Brill, na Filadélfia, Estados Unidos. Em 1929 foram adquiridos 32 (trinta e dois) bondes “Birney”, de Baltimore, e 8 (oito) da Eastern Massachusetts Street Railway, Boston. 8
Em 1936 foram comprados mais 20 (vinte) bondes da Eastern Massachusetts Street; em 1940 chegaram 4 (quatro) grandes bondes de York, Pennsylvania, Estados Unidos, 3 (três) carros “Master-Unit” construídos pela Brill e 1 (um) “Electromobile” montado pela Osgood-Bradley, e outros 12 (doze) de Miami, da Perley Thomas Car Works in High Point. 9
Os últimos 25 (vinte e cinco) bondes, da Osgood-Bradley, procedentes de Worcester Street Railway Massachusetts, chegaram em 1946. 10
“A história dos bondes em Porto Alegre se confunde com a própria história da cidade.” Essa é a frase que inicia o artigo publicado no jornal Correio do Povo de 17 de janeiro de 2009 que continua assim: “Em março de 1908, os primeiros desses veículos movidos a eletricidade foram introduzidos na capital gaúcha pela Companhia Força e Luz. A partir de então, os bondes de tração animal foram substituídos gradativamente. Em junho de 1908, o porto-alegrense já usava intensamente os bondes elétricos. Na foto, o público (à direita) saindo do cinematógrafo Recreio Familiar e da confeitaria A Bohemia em direção a um bonde, na praça Senador Florêncio (Praça da Alfândega). O cinematógrafo exibia na ocasião o espetáculo ‘Os Guardas do Farol em Alto-Mar’. 11
No site da Carris 12 encontramos algumas curiosidades:
– o último bonde puxado a mula circulou em 1914;
– a informação de que Lupicínio Rodrigues trabalhou como aprendiz de mecânico de bondes em 1930 e Pedro Raymundo, o gaiteiro autor da canção “Adeus Mariana”, foi condutor de bonde em Porto Alegre entre 1929 e 1933; ainda sobre Lupicínio consta que foi uma greve nos serviços de bondes da Carris que lhe deu a inspiração para compor o Hino do Grêmio, cujos versos citam a falta de transporte para ir ao estádio: “Até a pé nós iremos; Para o que der e vier; Mas o certo é que nós estaremos; Com o Grêmio onde o Grêmio estiver”;
– o relato de Eloy Figueiredo sobre o roubo de um bonde da linha Petrópolis num domingo de verão dos anos 60: ”o guri observou que o motorneiro e o cobrador foram tomar uma cerveja no bar na frente do fim da linha, que ficava exatamente na frente do cinema, esperando a hora de voltar para o Centro. Subiram alguns passageiros: casais com crianças pequenas que iam esperar sentados, no interior do bonde, para passear na Redenção ou no Centro. Quando ele viu aquilo, o bonde abandonado e chamando por ele, não resistiu. Subiu e moveu a alavanca como havia aprendido olhando o motorneiro dirigir. Quanto mais ele movia a alavanca para frente, o bonde corria mais descendo a Avenida Protásio Alves à toda velocidade, com funcionários da Carris correndo, gritando e fazendo gestos desesperados com seus blazers na mão como se fossem bandeiras desfraldadas. Só conseguiram pará-lo na Osvaldo Aranha, no Bom Fim, depois que o cobrador e o motorneiro se apropriaram de um automóvel que parou para saber do ocorrido. – Em nome da lei, siga aquele bonde! – disseram eles.”
O Museu Virtual Memória Carris 13 também é pródigo na apresentação de imagens dos antigos bondes da cidade. Algumas são apresentadas a seguir:
MEMÓRIA DOS BONDES DE PORTO ALEGRE
FONTES:
1 e 2 Cento e Onze Anos de Transporte – Do Bonde de Mulas ao Transporte Seletivo, Ed. Corag, 1976, Pg. 10,12 – Secretaria Municipal de Transportes de Porto Alegre
3 Conforme Sérgio da Costa Franco em seu Guia Histórico de Porto Alegre, 4ª Ed., Pg. 430, “Em 1870 (jun./6), foi que o Caminho Novo recebeu o batismo oficial de Rua dos Voluntários da Pátria.”
4 e 5 Imagens do Museu Virtual da Carris
6, 7, 8, 9 e 10 http://tramz.com/br/pa/pap.html
11 Colaborou com o jornal na apuração de datas e dados da foto a historiadora Alice Dubina Trusz
12 http://www.carris.com.br
13 http://www.carris.com.br/default.php?p_secao=85