O Teatro São Pedro
Dentre inúmeros acontecimentos importantes para a cultura e historiografia de nossa cidade, está a movimentação da comunidade local em meados do século XIX para a criação do teatro. Segundo o historiador Sérgio da Costa Franco uma sociedade foi formada por doze cidadãos com a finalidade de construir a casa de espetáculos com “o beneplácito e auspício do governo da Província”. 1
A história do Teatro São Pedro, que é também um pouco da história da cidade de Porto Alegre, tem início no ano de 1833 quando o Presidente da Província, Manoel Antônio Galvão, emite uma carta de título de doação do terreno para a construção de um teatro no centro da cidade. O encaminhamento desse projeto teve andamento acelerado após a Revolução Farroupilha (1835-1845) quando em 1847 foi autorizado um empréstimo dos cofres provinciais para o início da construção. 2
No ambiente histórico e cultural da época é possível identificar movimentos que deram forma a metrópole que a cidade viria a ser3: a extinção do velho cemitério atrás da Matriz e a construção de um novo pela Irmandade da Santa Casa no Alto da Azenha (1850); a criação de novas ruas, a circulação diária do jornal “O Mercantil”, do jornal bilíngüe – português e alemão – “Der Colonist” e do Correio do Sul, e a criação de uma Sociedade Médico-Farmacêutica (1851); o lançamento da revista “Archivos de Medicina e Pharmacia” (1853); a fundação da Sociedade Portuguesa de Beneficência (1854); a fundação da Sociedade Germânica (1855); o lançamento da primeira revista literária “O Guaíba” (1856); o primeiro almanaque editado em Porto Alegre, a “Folhinha Rio-Grandense e a fundação do Clube Comercial (1857); e a 27 de junho de 1858 a inauguração do Teatro São Pedro, com a apresentação do espetáculo “Recordações da Mocidade”. Antonio Hohlfeldt4 (O teatro e seu desenvolvimento na cidade de Porto Alegre) aponta que essa encenação teve a “direção de João Ferreira Bastos, e música do maestro Joaquim José Medanha, um compositor mulato que então se revelava, alcançando enorme sucesso graças a uma orquestra formada por 27 músicos.”
À partir de 1861 o Teatro São Pedro passou a ser também o palco de apresentação de variedades, como os espetáculos das Lanternas Mágicas (Aparelho para projeção em tela de imagens pintadas em pequenos quadros de vidro. Porta para colocação de um pavio ou vela entre um jogo de espelhos. Lente com ajuste de foco, e chaminé para saída de fumaça).
Alice Dubina Trusz5 em seu trabalho apresentado no IV Simpósio Nacional de História Cultural, realizado em Goiânia em 2008, promovido pela Anpuh e Universidade Católica de Goiás “O cruzamento de tradições visuais nos espetáculos de projeções ópticas realizados em Porto Alegre entre 1861 e 1908” menciona, entre outros, os seguintes eventos:
“A começar pelos prestidigitadores que ofereceram as projeções como atração complementar aos números de sua especialidade, verificou-se que foi nos espetáculos do físico franco-inglês Dr. Mailhor Lohlian que os porto-alegrenses assistiram pela primeira vez à “reprodução de numerosas vistas dissolventes e animadas a maravilhosos efeitos e transmutações momentâneas”. Realizados no Theatro São Pedro em 1875, contaram com um Diafanorama, por meio do qual o exibidor teria projetado uma coleção de, ao menos, 50 vistas dissolventes, renovando-as ao longo da temporada. Entre elas, constavam “retratos dos célebres republicanos Garibaldi e Gambetta” e das “batalhas de 1870 e 1871”.O que se sabe, porém, é que seus espetáculos foram divulgados como distração agradável e familiar, com o que atendiam ao crescente interesse pelas formas de entretenimento leves e descomprometidas que, no final da década de 1870, estimulou o surgimento das primeiras companhias de variedades.”
“A técnica das vistas dissolventes (vues fondantes ou dissolving views) foi a mais apreciada e a que mais possibilidades abriu aos usos da lanterna mágica. (…) A primeira companhia do gênero a se apresentar na cidade foi trazida pelo prestidigitador A. J. D. Wallace, que fez temporada no Theatro São Pedro em 1878. Os programas dos seus espetáculos reuniam números de prestidigitação, ventriloquia, ginástica, acrobacia e projeções ópticas pelo “Megascópio Egípcio ou Aparelho de Vistas Dissolutivas”. Em alguns programas, as projeções foram substituídas pela apresentação da “paródia” da “famosa experiência que Cagliostro chamou Espelho Negro”, na qual o ilusionista prometia fazer “aparecer o retrato dos defuntos que o público pedir, assim como de pessoas ausentes e presentes no espetáculo”. O anúncio respectivo acrescentava tratar-se de um “estranho fenômeno, que apresenta uma aparição sobrenatural”.
O teatro foi também utilizado para eventuais sessões de cinema a partir de 1896 por exibidores itinerantes. Essa prática, entretanto, não foi vista com bons olhos por alguns representantes da alta sociedade. O baixo valor dos ingressos para as sessões dos cinematógrafos justificavam notas na imprensa classificando as projeções como diversão de terceira classe.
“A campanha dos jornais contra a apresentação de cinematógrafos no Theatro São Pedro era constante, viam o cinema como uma atividade menor, uma sessão de magia, um mero aparato científico, não merecedor de uma casa de espetáculos do porte do principal teatro da cidade. A campanha liderada pelo jornal A Gazeta considerava que o cinematógrafo rebaixava o São Pedro a um “teatrinho de feira”. 6
FONTES
1 Franco, Sérgio da Costa, Guia Histórico de Porto Alegre, Editora UFRGS, Quarta Edição 2006, Pg. 375.
2 http://www.teatrosaopedro.com.br/tsp/historia
3 p. 61, 63, 65, 66, 67, 69, 71, 72, 73, 75
4 Dornelles, Beatriz (Org), Porto Alegre em Destaque – História e Cultura, Edipuc, 2004, Pg. 206.
5 http://www.scielo.br/pdf/anaismp/v18n1/v18n1a05.pdf – Alice Dubina Trusz – Doutora em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
6 Silveira Neto, Olavo Amaro da, Cinemas de Rua em Porto Alegre – Do Recreio Ideal (1908) ao Açores (1974) – Dissertação de Mestrado – UFRGS, 2001, Pg. 74