Bairro Ipanema

O ANTIGO E O NOVO NA ZONA SUL DA CIDADE

Artigo de Janete da Rocha Machado1 Mestre em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Licenciada e bacharel em História e turismo pela mesma instituição. Especialista em Rio Grande do Sul: História, Memória e Patrimônio pela Faculdade Porto-Alegrense. 

No início da década de 30, Ipanema não passava de uma imensa zona rural de Porto Alegre, onde se cultivava arroz, milho, aipim e frutas, além da criação de gado leiteiro. Isso era possível devido à irrigação pelo Arroio Capivara que proporcionava uma região fértil e, portanto, perfeita para a agricultura e pecuária. Eram grandes extensões de terras, com fazendas e chácaras, outrora sesmaria de São Gonçalo, de propriedade de Dionísio Rodrigues Mendes, e que caracterizavam toda a região. Era o arrabalde de um Porto Alegre bucólico, solitário e longínquo, margeado pelas águas do Guaíba, e que o  imaginário de poucos, ainda hoje, tenta resgatar, através da memória, da oralidade e da pesquisa, corporificando a paisagem nostalgicamente. Este estudo tentará desenvolver uma análise do processo de urbanização e desenvolvimento do Bairro Ipanema, desde os seus primórdios, até os dias atuais. Para isso, a pesquisa se utilizou de resgates feitos a partir da recuperação e registro das memórias das pessoas. Memórias estas que surgiram a partir de fotografias, documentos, cartas e, principalmente, da história das pessoas do lugar. Foram depoimentos de moradores muito antigos, entre eles, o de Maria Emília2, descendente dos Juca Batista, uma das famílias mais antigas da região.

Outro depoimento importante foi o do Professor Harry Bellomo3, morador do bairro desde o ano de 1946, cujas lembranças e anotações possibilitaram uma reconstituição valiosa de parte desta história. Além de versado sobre o assunto, Bellomo é também professor de história, o que favoreceu, sobremaneira, o desenvolvimento desta pesquisa. Conforme Le Goff, há especialistas na memória, que o autor identifica como os homens-memória.4

Além disso, o estudo se utilizou de dados obtidos em arquivos públicos, entre eles, o Arquivo Histórico de Porto Alegre Moyses Vellinho, que constitui uma das mais importantes fontes de pesquisa sobre a cidade e o Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa, cujo acervo abrange diferentes áreas da comunicação, como: imprensa, televisão, rádio, fotografia, cinema, entre outros. Nestes locais, foram analisadas várias reportagens de jornais, entre eles o Correio do Povo e Zero Hora, desde os anos de 1930 até os dias atuais.

Assim, a recuperação da história da cidade de Porto Alegre, através do Bairro Ipanema, foi utilizada nesta pesquisa, tanto pela história oral, ou seja, a história contada e vivida pelas próprias pessoas, quanto pela história dos documentos históricos, sendo eles, especialmente, os jornais. Destaque-se, que nesse processo, não são mais heróis, autoridades ou fatos marcantes que fazem a história, mas as pessoas comuns e seu cotidiano igualmente comum, pois são esses, que, conforme Peter Burke5, também constroem a história.

Bairro Ipanema de antigamente

“O sino da capelinha ecoando pelo bairro e crianças brincando em águas recomendadas por pediatras, assistidas por babás impecavelmente engomadas. Esse era o cenário da Praia de Ipanema na década de 30. Das recordações dos moradores mais antigos, restam o canto solitário do sabiá e um lindo pôr-do-sol do Guaíba derramando cores sobre as casas.” 6

O Bairro Ipanema foi criado por lei no ano de 19597, porém suas origens remontam aos anos de 1930, quando surgiram alguns nomes de ruas dadas por Oswaldo Coufal e pelos seus sócios. Coufal era proprietário de uma grande extensão de terras às margens do Guaíba, e ele próprio projetou o loteamento, no ano de 1932, que mais tarde viria a ser o Balneário mais famoso de Porto Alegre. O Rio de Janeiro foi sua inspiração ao dar nome às ruas e ao balneário, que queria ver transformado em ponto turístico. Coufal adorava a capital carioca e levava a família para passar férias no bairro da Urca.

Assim, ele se utilizou de um suposto imaginário ligado à Cidade Maravilhosa para criar e divulgar o novo bairro. Curiosamente, o nome Ipanema, na língua Tupi significa “água que não presta” e foi dado por ele em uma época que o rio ainda era limpo e sem poluição, pois foi homenagem à famosa praia carioca, da qual gostava tanto.

As praias gaúchas também foram lembradas pelos loteadores de Ipanema. Muitas delas emprestam seus nomes às ruas do bairro, entre elas Tramandaí, Cidreira, Torres, Capão da Canoa, Cassino e Atlântida.8 Coufal também era o proprietário de uma Imobiliária que ficava no Bairro Tristeza, o que facilitou a venda dos primeiros lotes.

O mesmo projetista da Praia de Imbé, Ubatuba de Farias, urbanizou o bairro, traçando ruas arredondadas e preservando as matas, entre elas os majestosos e centenários eucaliptos, conforme relembra o Professor Bellomo: “Eram matos de eucaliptos que marginavam toda a Avenida Tramandaí”. 9 E sobre esse assunto também conta Maria Emília: “E no inverno assobiavam com o vento”. 10

Ipanema, 1928Ilustração de Hélio Ricardo Alves, 2001.

Nos primórdios, toda essa região fez parte da primeira sesmaria11, doada no século XVIII, e o Arroio Capivara, existente até hoje, era o limite dessas terras. Arroio que apresentava águas límpidas e cristalinas, conforme Alves12. A ilustração acima retrata o bairro Ipanema no final da década de 20, quando à beira da praia ainda não era considerada balneário e o cenário que se via era o de animais pastando em meio à natureza bastante preservada. “A posição onde está o gado é quase no desembocador da Rua Flamengo (ver em anexo, o mapa das ruas de Ipanema), quando não havia calçamento. Era um areal típico de beira de praia, com muito mato nativo”.13 E conforme outro relato, o de um escritor chamado Roberto Pellin que conhecia muito bem Ipanema neste período: “Morava em 1926, na Serraria, onde meu pai era capataz de um grupo de operários extratores de pedras para construção do Cais do Porto. A área onde está Ipanema pertenceu ao meu pai e o terreno limitava-se com a  margem do Guaíba, desde as terras do seu João Batista Magalhães – Juca Batista – com as margens do Guaíba, até a Rua Dea Coufal, que na época pertencia a Otto Niemeyer”.

Muitos anos depois, essas sesmarias foram designadas para algumas famílias, entre elas, as mais antigas do bairro como os Juca Batista, que hoje dá nome a uma das avenidas mais importantes de acesso ao bairro. Sobre este fato, comenta Bellomo: “A sede da Estância do Juca Batista ainda existe. Ela é aquela casa que ainda está ali na beira da Avenida Juca Batista e que atualmente é uma ferragem. Ainda hoje, existem descendentes dos Juca. Eu mesmo tenho uma amiga que é casada com um deles”.14

Maria Emília Rolim Garcia de Vasconcellos é uma dessas descendentes de que fala Bellomo. Sua família, por parte materna, os Batistade Magalhães, era uma das grandes proprietárias de terras em Ipanema, também conhecido muito antigamente por “Passo do Capivarum”. Conforme depoimento de Maria Emília: “O irmão de minha avó, Emília, foi homenageado ao colocarem seu nome Juca Batista (chamava-se João Baptista de Magalhães) na avenida mais importante da região”.15

Foi no início do século XX que Porto Alegre começou a se expandir em direção à Zona Sul de Porto Alegre, chegando até o bairro Tristeza, vizinho de Ipanema. Antes, a única via possível de acesso à região era pela Estrada da Cavalhada. Oswaldo Coufal será o comprador de muitas dessas chácaras que, anos mais tarde, serão transformadas em loteamentos, dando início ao desenvolvimento da região.

Desta forma, Ipanema ia aos poucos tomando jeito de uma pequena cidade do interior com um plano de urbanização que incluía a igreja, a praça principal e a escola pública. A construção da Paróquia iniciou com os incentivos de Dona Déa Coufal, casada com Oswaldo Coufal, responsável pelos inúmeros trabalhos comunitários e de assistência aos carentes da região. O início das obras data de 1935, num terreno doado por seu marido, Coufal. Como padroeira da Paróquia, foi escolhida Nossa Senhora  Aparecida, que permanece até hoje, e a inauguração deu-se no ano de 1937. Sobre este assunto diz Bellomo: “A capela tem uma trajetória muito longa, pois ela começa praticamente com o bairro. Era uma capela muito simpática, eu ainda conheci bem essa capelinha. Eraem estilo colonial e que mais tarde com o crescimento do bairro, foi derrubada e se fez a igreja atual.16

Atualmente, a Rua Déa Coufal presta homenagem à obra de Dona Déa, ela começa na Avenida Guaíba, atravessa a Coronel Marcos e termina em outra Avenida, a Cavalhada, com cerca de 2 km de extensão. Assim, como esta rua, outras também foram nomeadas com o objetivo de lembrar alguém, entre elas, as Avenidas, Comendador Castro17, Coronel Marcos18, Conselheiro Xavier da Costa19 e a Juca Batista, já citada nesta pesquisa. Observa-se nesse gesto uma forma de tentar preservar a memória histórica de um lugar e de um tempo perdido no passado.20 É a construção da memória das famílias, através de  pessoas ilustres, que de alguma forma foram importantes na configuração do bairro.  Conforme Nora: “Os lugares de memória nascem e vivem do sentimento que não há memória espontânea, que é preciso criar arquivos, que é preciso manter aniversários, organizar celebrações, pronunciar elogios fúnebres, notariar atas, porque essas operações não são naturais, sem vigilância comemorativa, a história depressa os varreria”.21

Capela de Ipanema, 1935Ilustração de Hélio Ricardo Alves/2001

A criação de uma escola pública foi outro dos projetos incluído no plano de urbanização do bairro e o nome foi dado para homenagear a Senhora Odila Gay da Fonseca, moradora da região e responsável por inúmeros trabalhos sociais e comunitários, conforme relembra seu filho, Fernando, “Ela era muito dedicada à caridade, tinha muita preocupação com o outro, levava remédios e roupas para os que necessitavam e fazia  também o natal para as crianças carentes, com Dona Déa Coufal”. Sobre a construção da escola, diz: “Quando Juca Batista loteou suas terras, minha mãe o convenceu de reservar uma área para a escola. o Estado, então, abriu o colégio estadual”. E sobre o nome da escola, relembra: “A escola chamava-se Ginásio de Ipanema, mais tarde, para minha alegria e surpresa, homenagearam com o nome de minha mãe, em um lindo parecer do irmão marista Roque Maria. Foi um presente que recebi quando vi no Diário Oficial”.22

Jornal do bairro – INFORMAJUCA – Acervo de Maria Emília Vasconcellos

Seguindo o projeto de loteamento iniciado por Oswaldo Coufal, no final dos anos 30, Ipanema aparece como um local destinado ao lazer e  ao descanso dos porto-alegrenses, uma praia no estilo da Baía da Guanabara, no Estado do Rio de Janeiro, e que apresentaria todas as normas estéticas de um moderno urbanismo, conforme anúncio:

Ruas largas, amplas avenidas recortam esse soberbo recanto da capital, destinado a transformar-se na mais agradável estação de veraneio da população porto-alegrense. A Avenida Guahyba, com 20 metros de largura e 600 metros de extensão, com o seu calçamento já em activa execução, constitue o attractivo mais elegante entre todas as nossas estações balneárias.” 23

A partir da venda de grandes terrenos (15 X 45 metros), muitas famílias construíram suas casas de veraneio, em estilo chalés com pomar, horta e piscina, famílias estas que residiam em outros bairros de Porto Alegre, e que nos fins de semana ou nos períodos de férias escolares se dirigiam para a Zona Sul a fim de fugirem da poluição e do barulho do centro da Cidade.

Conforme Maria Emília: “As famílias vinham passar os fins de semana e férias em seus chalés, como nós que morávamos na Rua da República, na Cidade Baixa; eram oriundos dos mais diversos bairros da capital. Ipanema era considerada quase um município à parte, o pessoal costumava dizer, quando voltava para seus lares, lá na cidade24 – referindo-se a Porto Alegre”.

A divulgação do Balneário foi importante para a venda dos terrenos no bairro, como se observa em outro anúncio de um jornal da época: “Balneário Ipanema: terrenos na praia de Pedra Redonda em prestações – sem juros – ruas calçadas e arborizadas e água canalizada. Auto-bonde à porta. Magnífica praia de areia. Offerecemos um passeio sem compromisso. Escriptorio: Galeria Municipal, nº 51”.25

Na beira do rio, a Avenida Guaíba margeava a grande enseada, formando o balneário, onde os primeiros moradores (ver em anexo nome dos primeiros proprietários de terrenos) construíram suas casas de veraneio. Conforme Bellomo: “Os veranistas de menos posse tomavam o trenzinho na Ponte de Pedra e vinham para Ipanema nos fins de semana tomar banho na praia, após retornavam para o centro da cidade.”26

A Maria-Fumaça27 que precedeu o ônibus e depois repartiu os trilhos com ele, trazia esses banhistas em vagões até a praia da Pedra Redonda28, muito procurada na época. O trem partia da Cidade Baixa, um local conhecido como Estação Riacho, porque se situava à beira do Arroio Dilúvio, onde se dava o embarque e desembarque de passageiros.

Sobre a Pedra Redonda diz Pellin: “Em 1908, a rede ferroviária do município foi prolongada até a praia. Um hotel cassino foi construído onde hoje é a sede esportiva da Sociedade de Engenharia. Para incrementar o turismo a Intendência e o Estado construíram um trapiche em frente ao hotel. A partir de 1920 o movimento passou a crescer cada vez mais, chegando ao auge em 1930-35, quando a praia ficava negrinha de gente”29 Ao lado uma foto de 1940 (PELLIN,1979), mostrando um grupo de banhistas na praia da Pedra Redonda. Assim, o bairro Ipanema surgia como um espaço de identidade urbana, de contato dos moradores com o rio Guaíba, como lugar de lazer, de banho e veraneio.

Porém, a estrada de ferro e o trem não foram instalados exclusivamente para o transporte de passageiros, levava além do material pesado para a construção do cais do porto, todo o lixo malcheiroso à Ponta do Asseio. Eram cubos cheios de matéria fecal, recolhidos das casas dos arrabaldes, onde não havia esgoto, fossas ou casinhas com buracos nos fundos de quintal. Todo esse lixo era descarregado no rio, na região onde hoje está o Estaleiro Só, fazendo com que logo o trem recebesse o apelido de “Trem da merda”. Mas, apesar disso, a viagem de trem era considerada agradável, segura e bonita. Conforme Alves:

“O passeio era seguro, porque o trem andava em baixa velocidade. A viagem era bonita e pitoresca. Mais de dois terços do percurso era beirando o rio Guaíba. Quem já viajou de trem se recorda do  cheiro característico da fumaça e dos vapores do carvão de pedra em combustão, do balanço ritmado e do tuco-tuco da separação dos trilhos, do apito e do sino anunciando estar próxima a parada, ou para afastar  um cavalo ou boi desprevenido perto dos trilhos.Nunca mais veremos na Zona Sul, num cruzamento: PARE, OLHE, ESCUTE!” 30

Durante os meses frios de inverno, os casarões com largos pátios ficavam entregues a chacareiros e empregados. Com o passar dos anos, entorno de 1940, os veranistas começaram a fixar residência em Ipanema, onde buscavam descanso e tranqüilidade. Nesta época, a calma da praia estimulava os proprietários das residências da Avenida Guaíba, todos, doutores, engenheiros e advogados a formar rodas de conversas sobre assuntos sociais diversos, entre eles, viagens, formaturas e negócios. No verão, o cenário alterava-se, surgiam as crianças que brincavam, na praia, sempre com suas babás por perto e as mulheres, cujos comportamentos eram sempre muito recatados, sentadas em suas cadeiras de preguiça, abanavam-se com seus leques para se refrescarem nos dias quentes de Porto Alegre. Nesta época, Ipanema, apesar das inovações da moda e do maior afluxo de banhistas, manteve-se elitista em função de seus moradores tão tradicionais, herdeiros que eram de estancieiros e proprietários de chácaras na Zona Sul da cidade.

Também, devido a estas características mais balneárias, o bairro abrigou muitas Sedes Campestres e Clubes importantes, entre eles, a AABB– Associação Atlética do Banco do Brasil, a Fundação Rubem Berta – Associação dos funcionários da VARIG, e a Fundação Marista, esta última pertencente desde 1999 ao Colégio Anchieta.  Todas localizadas na Coronel Marcos, avenida que liga o Bairro ao Centro e demais regiões de Porto Alegre. A Pedra Redonda, onde antigamente chegava o trem trazendo banhistas para  a Praia, tinha a fama das mansões com praia particular. Um exemplo desta elite residente  é a casa da Vila Clotilde, maior construção do Ipanema em estilo inglês, e que abrigava a família Bastian, tão tradicional e que foi a responsável pelo loteamento de outro bairro, o Menino Deus.

Outra Sede importante para o bairro foi a Sociedade Amigos do Balneário Ipanema, também conhecida por SABI. Neste local eram realizadas as mais variadas festividades e campeonatos esportivos. Sobre esta fundação lembra Maria Emília: “Meu pai, junto com outros pioneiros como Kleber da Silva Só, dono do ex-Estaleiro Só no Cristal, fundaram a SABI”.

Com o passar dos anos, o bairro foi se transformando, e com ele, seus moradores e freqüentadores. Por volta de 1945, conforme Bellomo, grupos de ciclistas davam longos passeios na avenida, faziam jogos inter-bairros de vôlei e outros esportes, e praticavam natação no rio Guaíba. As águas de Ipanema eram, ainda, livres das chaminés da ex-Borregard e dos despejos cloacais, pois as residências possuíam fossas nos jardins. E sobre as águas do rio, relembra o professor: “Eram tão limpinhas que se podia ver os  peixinhos.” 31 Ou ainda: “… tomavam banho com sabonete de tão límpida que era a água”. 32

E Maria Emília conta ainda, como usufruía a praia de Ipanema neste período: “Na minha infância e juventude, anos 50 e 60, a gente aproveitava a orla fluvial; nos fins de semana, a praia ficava lotada e os terminais de ônibus, na subida do Espírito Santo, formavam filas imensas”.33

Por volta dos anos 60, Ipanema continuará a ser muito procurado, também nos finais de semana e aos domingos, pois entre os bairros margeados pelo rio, ele era o único que apresentava avenida e praia, e uma linha de ônibus que chegava do centro da cidade. Sobre esta década, recorda Maria Emília: “Lembro-me, lá pelos  anos 60, quando meu pai fez uma obra em nossa casa na República, que ficamos morando alguns meses aqui, em Ipanema. Eu estudava no Instituto de Educação e pegava o ônibus na Avenida Guaíba; recordo do frio intenso, era inverno e o vento minuano castigava minhas pernas; hoje já não se ouve mais o lamento dele”.34

E sobre este vento, relembra Achylles: “Eram três dias certos em que as mulheres que saíam a rua tinham um trabalhão dos diabos para prender os vestidos e ocultar as pernas que o minuano se esforçava para desvendar”.35

Ipanema: tempos modernos36

Nos anos 70, altera-se o cenário e a qualidade de vida do bairro e da praia de Ipanema. Surgem os bares na Avenida Guaíba, entre eles a Taba, restaurante e boate que será muito freqüentado pelos jovens de outras regiões de Porto Alegre. O local torna-se atraente para encontros e namoros, porém a praia perde a sua balneabilidade, devido aos inúmeros problemas de poluição. Neste tempo, portanto, ocorrerá o fim dos tranqüilos e divertidos banhos de praia, pois a população temia as doenças de pele e outras complicações.

A poluição do rio, ocasionada pela construção do emissário de esgotos, também chamado pela comunidade de tubão, foi agravada pela construção da indústria de celulose Borregard, e também pela poluição do Arroio Capivara que desaguava no rio suas águas sujas provenientes das casas que escoavam seus esgotos na praia. Todos esses irão determinar o fim do rio.

Ainda assim, era mais tranqüilo e seguro residir na Zona Sul, que continuava a apresentar um ar mais puro devido aos inúmeros eucaliptos que  ainda não haviam sido retirados do Bairro. Para as famílias, esta segurança que o bairro proporcionava, compensava a ausência do rio: Conforme Bellomo: “Não se podia usar o rio, mas se tinha outras coisas boas”. 37

Com os mesmos problemas ambientais, da maioria das demais praias da capital, Ipanema ficou esquecida pelas autoridades durante esta década. Com isso, reclamações da população, envolvendo o Arroio Capivara, como constantes alagamentos e mau cheiro, foram deixadas de lado. Só mais tarde é que este córrego foi canalizado. Porém, ainda hoje, a população vizinha ao riacho sofre com as enchentes em dias de chuvas fortes.

Outro fator que também afetou, neste período, a qualidade de vida do Bairro Ipanema, foi a construção da Indústria de celulose Borregard em Guaíba. A fábrica espalhava um cheiro desagradável por toda a região. Logo que entrou em  operação, em março de 1972, a cidade de Porto Alegre foi tomada por um insuportável cheiro  de  repolho azedo, que chegava da outra margem do rio, trazido pelos ventos, mostrando que eles já não sopravam com o mesmo ar puro de antigamente. Ipanema sentiu o problema e o cheiro forte durante muito tempo. Esse acontecimento fez surgir uma massa crescente de reclamações, tanto da população residente nos Bairros que recebiam o cheiro, quanto de personalidades importantes, como o cientista ambientalista José Lutzenberger.

Os efeitos nefastos resultantes do despejo da produção de celulose foi amplamente discutido pela população e divulgado pelos meios de comunicação. No fim de 1973, a fábrica foi finalmente interditada pelo governo do Estado. Mais tarde, a empresa foi nacionalizada, ressurgindo com outro nome: Riocell.

A partir da segunda metade da década de 80, Ipanema volta a ser motivo de atenção, graças aos projetos da Prefeitura sobre a construção de um aterro, que aumentaria a largura da faixa de areia da praia. No entanto, o projeto não foi adiante pela discordância entre a população do bairro e o governo municipal. Desta forma, as transformações no Bairro demonstravam que a Zona Sul da Capital estava crescendo e com este crescimento, o Bairro adquiria outra paisagem, mais urbana, menos rural.

As ilustrações a seguir mostram dois cenários diferentes do Ipanema: no mapa do século XVIII, as estâncias e sesmarias onde hoje se encontra o bairro, e, no outro, o Ipanema do século XX e suas vizinhanças. Comparando-se os dois mapas, observa-se a conformidade geográfica entre a antiga Sesmaria São Gonçalo de Dionísio Mendes e a região onde hoje se situa o bairro Ipanema, com sua baía margeando a praia, reacendendo no imaginário dos antigos moradores e seu idealizador, as praias cariocas do Rio de Janeiro.

As mudanças no bairro, a partir dos anos 80, se fizeram sentir pelos moradores, tão acostumados com os “ares” de cidadezinha do interior, pacata e tranqüila. E serão esses mesmos moradores que, na década de 90, testemunharão uma avassaladora onda de construções com o advento dos condomínios horizontais e o surgimento  de grandes loteamentos residenciais que alterarão definitivamente a paisagem do bairro. Verifica-se um grande desmatamento de áreas verdes para a construção desses loteamentos. É o novo projeto paisagístico e urbanístico da Prefeitura para Ipanema, dentro do programa Guaíba Vive 38, que previa, através de ações integradas entre os órgãos públicos, preservar e revitalizar a orla, além de monitorar a qualidade da água. No entanto, a retirada dos bares irregularmente instalados à beira da praia foi extremamente longa. Iniciada, em 1989, uma polêmica que somente se encerraria em 2000. Entretanto, a própria Prefeitura pôs o antigo plano em banho-maria, pois acreditou ser necessário um novo projeto que abrangesse o planejamento de toda a orla do Guaíba conjuntamente, e não cada bairro ter seu próprio modelo.

É na busca pela preservação do ambiente natural do Bairro que, no início de 2004, se intensificará a luta pela sobrevivência do Morro do Osso, um parque natural, localizado no norte de Ipanema, e que apresenta uma grande biodiversidade e resquícios de Mata Atlântica. Moradores da Tristeza, Vila Conceição, Sétimo Céu,  Cavalhada, Ipanema e  Guarujá  uniram-se em uma grande cruzada pela preservação deste morro,alvo da especulação imobiliária e de assentamentos de índios kaigangs, que, assim como o Morro do Sabiá e do Espírito Santo, entre outros, estão intimamente relacionados à qualidade  de vida desta parte de Porto Alegre. Em termos paisagísticos, o local oferece uma das mais  belas vistas da cidade, do bairro e do Rio Guaíba. Neste mês de junho aconteceu a 24ª edição da Semana do Meio Ambiente de Porto Alegre, estando previsto o tradicional passeio ciclístico Preserve o Morro do Osso39. Atualmente, o parque, que foi criado em 1994, a partir da iniciativa de ecologistas e ambientalistas, possui uma área de 57 hectares, já desapropriados, com ampliação prevista pelo Plano Diretor para 127 hectares, o que irá garantir a proteção do local.

Some-se a isso a existência de outro projeto que propõe a revitalização da orla do Guaíba40, conforme as últimas notícias vinculadas nos Jornais da Capital. Porto Alegre deverá contar com mais recursos originários de emendas parlamentares para serem investidos nesse projeto de infra-estrutura turística na área. Esses recursos deverão ser empenhados junto ao Ministério do Turismo, em parceria com a Prefeitura de Porto Alegre. Também para investimentos na Orla do Guaíba já foram aprovados cerca de R$ 11milhões no orçamento da União por meio de emenda parlamentar da bancada gaúcha.

Atualmente, Ipanema é um lugar notadamente residencial. Possui um calçadão e uma ciclovia à beira-rio, amplamente arborizada, a região serve de atração aos atletas e moradores durante os dias de verão (ver ilustrações na contra-capa deste trabalho). Espera-se que, para os próximos anos, este e outros projetos contemplem o  bairro e a Praia, visto que, Ipanema ainda hoje é tido como um importante ponto turístico e de atração em Porto Alegre, com seu espetacular e único pôr do sol, matizando o horizonte e as águas do Guaíba.

“O rio, embora poluído, continua belo, haja vista que seu pôr do sol é um dos cartões postais de nossa cidade; seus morros, suas árvores (ipês, figueiras e outras) deleitam os nossos olhos e os pássaros que nos oferecem seu cantar maravilhoso”.41

Das transformações pelas quais passaram o Bairro Ipanema, analisadas nesta pesquisa, suscita uma reflexão: da sesmaria de São Gonçalo e  das antigas chácaras restam para a posteridade a memória documental e o imaginário do  qual se construiu uma história, a partir da oralidade, transmitida e registrada para o conhecimento das futuras gerações. E é nesse mapa antigo da cidade, onde, debruça-se o olhar nostálgico da memória viva, resgatando no tempo, e permitindo afirmar que a história não acabou. Ipanema, certamente, continuará sua trajetória com crescimento e inúmeras mudanças, mas sempre, com narradores memorialísticos ou os homens-memória através dos tempos.

FONTES:

– Arquivo Histórico de Porto Alegre Moysés Vellinho

– ALVES, Hélio Ricardo. Porto Alegre foi assim… Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2001

– Bairro Ipanema. Site do Bairro. Disponível em: http://www.bairroipanema.com.br

– Fotos Antigas- Site de fotos antigas de POA – http://fotosantigas.prati.com.br

– FRANCO, Sérgio da Costa. Porto Alegre: Guia histórico. Porto Alegre: Ed. Da

Universidade/UFRGS, 1998.

– MACEDO, Francisco Riopardense. Porto Alegre: Origem e Crescimento. Porto Alegre, Livraria Sulina, 1968.

– MONTEIRO, Charles.  Porto Alegre e suas escritas: história e memória da cidade. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2006.

– Museu de Comunicação Hipólito José de Costa.

– PELLIN, Roberto. Revelando a Tristeza. Porto Alegre, 1979.

– PESAVENTO, Sandra Jatahy.  O imaginário da cidade: visões do urbano: Paris, Rio  de Janeiro e Porto Alegre: Editora da Universidade, UFRGS, 1999.

– PORTO ALEGRE, A. História Popular de Porto Alegre, UE/Porto Alegre, 1994.

– PREFEITURA DE PORTO ALEGRE: Disponível em: http://www.portoalegre.rs.gov.br

– SOSTER, Ana Regina de Moraes. Porto  Alegre: a cidade se reconfigura com as transformações dos bairros. Dissertação de Mestrado. PPG de História da PUCRS, Porto Alegre, 2001.

– SOUZA, Célia Ferraz.  Porto Alegre e sua evolução urbana.  Porto Alegre: Editora da Universidade, UFRGS, 1997.

Mestranda pelo Programa de Pós Graduação em História da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Licenciada e bacharel em História e turismo pela mesma instituição. Especialista em Rio Grande do Sul: História, Memória e Patrimônio pela Faculdade Porto-Alegrense. Como mestranda pelo Programa de Pós Graduação em História da PUC/RS (bolsista CAPES), desenvolve pesquisas relacionadas à urbanização e desenvolvimento da Zona Sul de Porto Alegre na primeira metade do século XX. Atua principalmente nas seguintes linhas de investigação: História do Rio Grande do Sul; Imagens e Cultura Urbana; História e Memória. 

Maria Emília Rolim Garcia de Vasconcellos cedeu informações sobre o bairro através de um depoimento por escrito em abril de 2008.

O professor Harry BELLOMO concedeu entrevista em sua casa no bairro Ipanema em março de 2008.

LE GOFF, Jacques. História e Memória: UNICAMP, 1996. P. 429. Para este autor os homens-memória podiam ser os guardiões dos códices reais, historiadores da corte, tradicionalistas, chefes de família idosos ou sacerdotes, mas todos com um importantíssimo papel de manter a coesão do grupo, pois ele será o indivíduo que vai lembrar mais do que os outros.

Conforme Peter BURKE, a História Nova diferentemente da História Tradicional que considerava apenas figuras ilustres como os generais, estadistas, reis e outros, valoriza a história dos personagens comuns, como as opiniões de gente comum. É a história das mentalidades. BURKE, Peter (Org), A Escrita da História: novas perspectivas, Tradução: Magda Lopes, Unesp — 1992, SP.

Jornal do Comércio – 04/01/1982. O VERANEIO DE ANTIGAMENTE. Arquivo Histórico de Porto Alegre Moisés Vellinho.

Projeto que deu nome aos Bairros de Porto Alegre. Câmara Municipal de POA, 25 de novembro de 1959. Processo nº 862. Projeto de Lei nº 58/57 do Legislativo. Fonte: Arquivo Histórico de Porto Alegre Moises Vellinho.

A Avenida Tramandaí e a Rua Cidreira possuem registro de criação no Arquivo Moyses Vellinho, são eles: Lei nº 1717 de 18/01/1957 (Tramandaí) e Lei nº 1637de 10/09/1956 (Cidreira). Portanto as ruas que receberam nomes de praias gaúchas remontam os anos 50, bem posterior ao período em que Coufal designou nomes cariocas as ruas do bairro, quando da formação e loteamento do Ipanema.

BELLOMO, Harry: entrevista em março de 2008.

10 VASCONCELLOS, Maria Emília. Depoimento por escrito em abril de 2008.

11 Ver Mapa – Porto Alegre Sesmarias – século XVIII.

12 Hélio Ricardo Alves foi morador do bairro Ipanema. Nascido em 1920, desempenhou as funções de dentista, desenhista e pesquisador da historiografia da cidade. Deixou como legado, uma coleção de fotos e desenhos a bico-de-pena que retratam a paisagem urbana do final do século XIX e início do XX.

13ALVES, Hélio Ricardo. Porto Alegre foi assim… Porto Alegre: Editora Sagra 2001. p. 136.

14 BELLOMO, Harry: entrevista em março de 2008.

15 VASCONCELLOS. Depoimento de Maria Emília Rolim Vasconcellos em abril de 2008.

16 BELLOMO, idem.

17 Antônio Francisco de Castro veio de Portugal em 1861, moço ainda se destacou no ramo do comércio no Centro de Porto Alegre. Foi Diretor do Banco da Província do Estado do Rio Grande do Sul e exerceu por muitos anos o cargo de Cônsul de Portugal no Estado, por isso seu título de Comendador. Desde 1885 entregou-se a sua próspera firma de exportação e importação. Quando faleceu em 1929, foi aberta a rua que hoje tem seu nome nas terras que legou a seus herdeiros. Relação Toponímica da cidade. Doc. nº 13379. Arquivo Histórico de Porto Alegre Moyses Vellinho.

18 Marcos de Andrade nasceu na Vila de Viamão, em 1851 e faleceu em 1921. Foi professor e militar. Fez a Revolução de 1885. Nomeado coronel comandante do 7º Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional. Finda a revolução foi nomeado administrador dos correios  do Estado em 1901, presidente do conselho fiscal da Caixa Econômica e deputado estadual em 1909 e 1925.Esta Avenida passa a ser Coronel Marcos em 1927, até esta data era Avenida Pedra Redonda. Fonte: Arquivo Histórico de Porto Alegre Moyses Vellinho .

19 Francisco Xavier da Costa nasceu em Porto Alegre a13 de dezembro de 1872 e faleceu em 11 de maio de 1934. Pobre, iniciou sua vida como tipógrafo, tornando-se hábil gravador, cujos trabalhos eram grandemente solicitados. Inteligente, culto, ingressou na política, tornando-se homem de confiança da administração municipal, tendo sido conselheiro por diversas vezes. Doc. nº 14037. Fonte: Arquivo Histórico de Porto Alegre Moyses Vellinho.

20 A história de um povo também pode ser contada através dos nomes das ruas das suas cidades. Os endereços, que escrevemos em documentos, formulários, remetentes e destinatários de correspondência, retratam características de um território, sinalizam acontecimentos marcantes e, em muitos casos, são nomes de pessoas, cujas histórias de vida a grande maioria dos cidadãos desconhece. É, sobretudo, entendida como uma forma de homenagear post mortem, aqueles que se destacaram em vida.

21 NORA, Pierre. “Entre Memória e História: a problemática dos lugares”, In: Projeto História. São Paulo: PUC. P. 13;

22 INFORMAJUCA – Jornal do Bairro. Entrevista com Fernando Gay da Fonseca em março de j2005.

23 CORREIO DO POVO – 22/10/1931. Anúncio classificados: Ipanema terrenos em prestações sem juros na Praia da Pedra Redonda. Reportagem intitulada: O mais completo conforto no recanto mais aprazível dos arredores de Porto Alegre. Fonte: Museu de Comunicação Hipólito José da Costa.

24 VASCONCELLOS. Depoimento de Maria Emília Rolim Vasconcellos em abril de 2008.

24 CORREIO DO POVO – 22/10/1931. Anúncio classificados: Ipanema

25 CORREIO DO POVO de 29 de outubro de 1931. Anúncio Classificados. Fonte: Museu de Comunicação Hipólito José da Costa.

26 BELLOMO, Harry: entrevista em março de 2008.

26 CORREIO DO POVO de 29 de outubro de 1931.

27 Ver em ANEXOS, reportagem sobre este trem.

28 Para Roberto Pellin, a praia da Pedra Redonda fazia parte do Bairro Tristeza, porém no passado este balneário fez parte da história do Ipanema. Ver PELLIN, Roberto. Revelando a Tristeza. Porto Alegre, 1979.

29 PELLIN, Roberto. Revelando a Tristeza. Porto Alegre, 1979.

30 ALVES, Hélio Ricardo. História – Trem de Ipanema. Capítulo 5. Jornal Informa Juca de outubro de 2005. Fonte: Particular. Acervo de Maria Emília Rolim Garcia de Vasconcellos.

31 BELLOMO, Harry: entrevista em março de 2008.

32 VASCONCELLOS. Depoimento de Maria Emília Rolim em abril de 2008.

33 VASCONCELLOS. Depoimento de Maria Emília Rolim em abril de 2008.

34 VASCONCELLOS. Idem.

35 PORTO ALEGRE, A. História Popular de Porto Alegre,UE/Porto Alegre, 1994. P.54.

36 Limites atuais: Avenida Coronel Marcos desde o seu início até a Rua Miguel Leão; desta até a Av. Guaíba segue pela margem do rio até a Rua Ladislau Neto; desta até a Estrada Juca Batista; por esta, na direção sul/norte, até a Estrada da Cavalhada e  daí, por uma linha reta, seca e imaginária, até encontrar a divisa do Bairro Camaquã defronte à estrada João Salomani na Vila Maria e daí, em direção leste-oeste, pela linha reta, seca e imaginária da  divisa dos bairros Camaquã e Tristeza, passando pelo marco geodésico do Morro do Osso até encontrar o ponto de convergência da Av. Wenceslau Escobar com a Av. Cel. Marcos, seu ponto inicial.

37 BELLOMO, Harry: entrevista em abril de 2008.

38 SMAM – Secretaria Municipal do Meio Ambiente. Disponível em

http://www2.portoalegre.rs.gov.br/smam/default.php?p_secao=25. Acesso em: jun. 2008.

39 Reportagem “Abraço ao Morro do Osso” – ZERO HORA de 08 de junho de 08. Nº 15626.

40 Diretrizes para a Orla do Guaíba. Prefeitura de Porto Alegre. Disponível em:

http://www2.portoalegre.rs.gov.br/spm/default.php?p_secao=59 Acesso em: maio 2008.

41 VASCONCELLOS. Depoimento de Maria Emília Rolim em abril de 2008