Bairro Agronomia
O bairro Agronomia localiza-se na zona leste da capital e foi oficializado em 21 de setembro de 1976, através da lei 4166. Teve seus limites alterados através da lei 6720, em 21 de novembro de 1990 e, posteriormente, através da lei 7954 de 08 de janeiro de 1997.
Sua origem remonta ao século XVIII, e sua gestação se deve ao tráfego contínuo em duas estradas que foram fundamentais para o desenvolvimento da cidade de Porto Alegre: Caminho do Meio, atual Oswaldo Aranha e Protásio Alves, e estrada do Mato Grosso, atual Bento Gonçalves.
Já nos primeiros anos do século XX, foi fundado no bairro o Instituto de Agronomia e Veterinária, que viria transferido da Escola de Engenharia, localizada na área central de Porto Alegre, em função da necessidade de adequação do espaço geográfico com a proposta do curso, instalando-se em prédio próprio em 1° de julho de 1913. Neste sentido, o território que viria a ser o Bairro Agronomia, correspondeu às finalidades pretendidas pela instituição, que passaria a dispor de amplo espaço para a realização de suas práticas. Com a criação em 1934 da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o referido departamento e a sua estrutura foi por ela absorvido, e essa atividade universitária trouxe uma relativa expansão para a região. A partir de meados da década de 1970, alguns institutos da UFRGS, sediados no campus central da mesma, começam a ser deslocados para uma área no bairro, próximo da divisa com o município de Viamão. O bairro apresenta baixo índice demográfico ainda na atualidade. Por estar localizado entre as duas estradas já citadas, o bairro Agronomia acabou por desenvolver apenas um pequeno comércio local, a nível de subsistência.
No que diz respeito aos limites do bairro, encontra-se o município de Viamão, o bairro Partenon e Jardim Carvalho. Dentro do bairro, os limites da universidade percorrem uma latitude delimitada pelo Arroio Dilúvio e a Av. Bento Gonçalves.
A História de um Castelo
No centro do bairro existe um castelo.
Não há plebeu que não repare no topo do terreno à altura do número 9.343 da Avenida Bento Gonçalves, na zona leste de Porto Alegre. Entre os múltiplos comércios e residências de uma das vias mais movimentadas da Capital, o local exibe um ícone da realeza: um castelo em pedra com quatro torres, de frente para o Campus do Vale da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Seus nobres habitantes dispensam pompa. Foi de calça jeans, suéter e tênis esportivo que Antônio Roslank, soberano do pequeno reino, recebeu GaúchaZH para apresentar o local onde vive com a esposa, Maria, e um de seus quatro netos. De pantufas com estampa de onça, calça leve e tricô lilás sobre uma camisa branca, a rainha do lar trabalhava em uma máquina de costura.
Ao contrário de boa parte dos aristocratas, a família real porto-alegrense não tem origem abastada. Natural de Santo Ângelo, nas Missões, Antônio, 75 anos, mudou-se para a Capital no final da década de 1950. Trabalhou como padeiro antes de entrar no ramo das autopeças, onde mais tarde abriria o próprio negócio, na Avenida da Azenha — hoje é dono de três pontos, na citada avenida e na Rua Professor Freitas e Castro.
— Começamos com a roupa do corpo — recorda Maria, nascida em Veranópolis.
Iniciados em 1974 com uma loja de autopeças, os negócios da família já prosperavam quando o casal decidiu, no final da década de 1980, adquirir o primeiro imóvel na Avenida Bento Gonçalves. Moradia da família por mais de uma década, a propriedade térrea em estilo rústico que segue ao lado do castelo lembra uma casa de campo. O amplo terreno permitiu à dupla transformar o ambiente em uma mini propriedade rural, com horta, árvores frutíferas, galinhas, patos, gansos e vacas — além de meia dúzia de cachorros.
Mudar-se sequer estava nos planos de Antônio e Maria quando teve início a construção que hoje se destaca na paisagem urbana da via que liga Porto Alegre a Viamão. Gremista fanático, o santo-angelense queria à época um espaço maior para reunir-se com a confraria de amigos igualmente tricolores que frequentava sua casa — realizavam churrascos em um pequeno galpão ao lado do imóvel. A ideia era que o salão de festas, no topo do íngreme terreno, fosse o mais simples possível, preferencialmente em pedra, “para não precisar pintar”.
— Não tinha nenhum plano, nenhuma inspiração — conta Roslank.
Mas, a medida em que a obra avançava, o espaço com vista privilegiada para o Morro Santana parecia subaproveitado. Surgiu, então, a ideia de construir um segundo piso, que serviria de moradia para o casal. Logo Antônio acharia prudente que a casa tivesse quartos para seus dois filhos, já adultos, providenciando um terceiro pavimento. Encantado pelo verde do morro em frente, fez questão de finalizar a obra com um mirante, acessado por uma escada em caracol.
Elemento determinante para o ar majestoso do imóvel, as torres que podem ser avistadas a quase uma quadra do local não foram fruto de impulsos de grandeza, mas de conversas animadas durante os encontros da confraria.
— Isso foi a cerveja de fim de semana. Um belo dia ele (Antônio) foi na Azenha, comprou um quadro com uma foto de um castelo e disse que queria as torres iguais. Foi dali que saíram — sorri Maria.
Torres foram reconstruídas por escultor
Feitas em alumínio, as primeiras torres — “ridículas”, na definição Roslank—, foram reconstruídas pelo escultor Caé Braga, seu amigo pessoal, que atribuiu significado religioso a três delas: na sua visão, representariam uma espécie de santíssima trindade, e por isso teriam formatos diferentes. Cristão não praticante — ex-noviça, Maria é a religiosa do casal —, Antônio não compartilha do entendimento do amigo. Atendendo a um pedido seu, uma delas leva um gnomo sentado, “para cuidar da natureza”.
Da primeira pedra à última torre, o castelo levou cerca de dois anos para ser concluído. Mais de 40 pessoas trabalharam na obra, que intrigou os vizinhos:
— No começo eu achava que iam construir uma casa de pedra normal, depois apareceu o castelo. É muito lindo — observa o mecânico Robson Dimare, que atua em uma oficina a metros do imóvel. Se o exterior suntuoso impressiona, por dentro, o castelo da Bento Gonçalves assemelha-se a uma casa convencional. O primeiro pavimento, que em tempos idos chegou a ser alugado para eventos — segundo o dono, foi palco inclusive do casamento de um escocês “de saia e tudo” —, é atualmente usado como garagem, varal interno e depósito das mesas, cadeiras e eletrodomésticos não utilizados. É nele onde, atrás de uma geladeira desligada, o empresário preservou o quadro kitsch que inspirou as torres.
Parte mais habitada, o segundo pavimento conta com uma sala ampla com sofás em couro, cozinha e a suíte do casal. Um espelho com o símbolo do Grêmio, um bar e quadros dos papas Bento XVI e João Paulo II — rodeiam a mesa comprida onde fazem as refeições. Com menos mobília, o terceiro piso é onde dorme o neto, em um dos quartos construídos para os filhos — e por eles nunca utilizados.
Dois casais de caseiros auxiliam a família, que continua consumindo os vegetais que plantam, ovos das galinhas que circulam livres pelo gramado, leite das próprias vacas e queijo feito de forma artesanal. Na visão da realeza urbana, os luxos são subjetivos: uma vista sem obstáculos do maior morro da Capital e a atmosfera de cidade de interior que, por momentos, faz o visitante esquecer-se que está às margens de um ponto de incessante tráfego de veículos.
— Fui criado tipo bicho, gosto de olhar o mato. Hoje sento na sacada e vejo todo aqueles verde, a revoada dos pássaros… Tem gente que vê um castelo aqui, mas eu enxergo de maneira mais simples. É só a minha casa — reflete Antônio.
FONTES:
http://www2.portoalegre.rs.gov.br/portal_pmpa_novo/
Jornal Zero Hora, de 29 de maio de 2019