A Ponte de Pedra
A Ponte de Pedra localiza-se na Av. Borges de Medeiros, S/N – Largo dos Açorianos – Centro Histórico
A Ponte de Pedra localizada no Largo dos Açorianos sobre um espelho d’água é um dos símbolos da história antiga da nossa cidade. A construção de uma primeira ponte, de madeira, remonta do início do século XIX quando o Conde da Figueira, então governador da capitania de São Pedro do Rio Grande do Sul (1818-1820), determinou que naquela área fosse aberto um caminho, o Caminho de Belas, e levantada uma ponte. Antônio Álvares Pereira “Coruja” em Antigualhas – Reminiscências de Porto Alegre1 trata desse assunto e relata que “atravessava-se o riacho ‘calcante pede’ no tempo de verão em que apenas dava a água pelos ‘machinhos’ ”. A ponte de pedra como conhecemos ainda levou um bom tempo para se tornar realidade.
Segundo o pesquisador Sérgio da Costa Franco2, uma ponte de madeira foi construída em 1825 “sobre o Riacho, junto a sua foz no Guaíba, um pouco mais abaixo da remanescente Ponte de Pedra”. Com o passar do tempo, ainda de acordo com Sérgio da Costa Franco, a estrutura de madeira mostrou-se muito frágil e suscetível de repetidas reformas o que levou a Câmara Municipal a solicitar providências (1844) ao então Presidente da Província, o Conde de Caxias, que assim decidiu:3 “Depois de ter mandado consertar por várias vezes a ponte de madeira do Riacho, nesta cidade, tive por mais vantajoso, atendendo ao seu estado de ruína, de fazer construir nova ponte de pedra na embocadura da rua da Figueira, como lugar mais favorável ao trânsito público; feita a planta e o orçamento, pôs-se a obra em arrematação e já nela se trabalha”. A Ponte de Pedra que começou a ser utilizada em março de 1848 ficou ociosa após a canalização do Riacho, entretanto foi preservada até os tempos atuais e encontra-se hoje no seu lugar de destaque no Largo dos Açorianos.
Notas publicadas na imprensa
Correio do Povo do dia 31 de dezembro de 1909 noticiava (preservada a grafia da época):
“A PONTE DE PEDRA – A ponte de pedra foi construída durante o governo Duque de Caxias, e as suas obras foram concluídas em 1848. A ponte de três arcos planos, permitia a ligação viária do Centro com as antigas chácaras da cidade. Este arroio, que desagoa no Guahyba, logo abaixo da ponte de pedra em frente á rua Espirito Santo, está reclamando as vistas protectoras da intendencia do municipio. Por uma ganancia, fóra de proposito ou uma imprevisão do antigo poder municipal, consentiu-se a edificação na margem direita, erro este imperdoavel, que só o tempo e a previsão intendencial poderão reparar. Jamais se devia ter consentido em edificar sobre a margem do arroio, que hoje poderia constituir uma alameda frondosa, com arvores de sombra, passeio magnifico, local pittoresco, de desafogo á população. O vereador Firmiano de Araújo, o velho boticario de Porto Alegre, ha pouco desapparecido, sempre se oppôz, com nitida precisão do futuro, a que se consentisse em edificar nas margens do riacho. Voz isolada no seio da Camara Municipal, ficou vencido, quando agora se verifica que só elle teve razão.
Outrora, o arroio era fundo, sulcado até por lanchões, que penetrando na embocadura, passavam por baixo da ponte e íam ter longe, favorecendo os moradores da cidade baixa com lenha, carvão e fructas, a preços modicos. Desde que se consentiu em edificar, foi sendo conquistado terreno ás aguas, por meio de aterros: á proporção que augmentava o numero de predios, diminuia a profundidade. Nunca, nas maiores enchentes registradas, deu-se uma inundação como as de 1897 e 1898, as quaes foram determinadas por excessiva diminuição da capacidade do leito do arroio. E a edificação, apesar de se achar patente e provado inconveniente, continuou e continua ainda, com grave prejuizo da cidade baixa. Hoje o arroio, outrora fundo e correntoso, está reduzido a uma agua suja, estagnada, um lameiro terrivel, foco de miasmas pestilentos, principalmente no verão. Quem quizer verificar a verdade, é só dar um passeio á ponte de pedra e encontrará a prova real do que asseveramos. Terá intenção a Intendencia de aterrar o riacho e desviar delle os afluentes? E si tem – qual o interesse que determina o projecto?
Parece-nos mais razoavel que se conserve o riacho, limpando-se-o, tirando-se aquelle lameiro para fóra, afim de que seu leito, ao menos em parte, se restabeleça. Este serviço, si for realisado, deverá ser seguido de completa prohibição de aterros, cisco, detrictos, no arroio, bem como do despejo de materias fecaes, que nelle são lançadas. A intendencia verificará a procedencia desta affirmativa, consultando o registro do asseio publico; por elle se verá que poucos moradores da margem o assignam. Segue-se que as materias fecaes dos predios não assignantes vão ter ao riacho, infectando-o por completo. Os carroceiros do lixo, também si forem ouvidos, terão de affirmar que dos predios da margem do arroio nenhum lixo recebem. E quem sofre com estas limpezas são os moradores de Porto Alegre, porque longe vão as miasmas com os ventos. Limpo o riacho prohibidas as novas edificações, impedidas as reconstrucções, daqui a meio seculo possuirá a capital um soberbo passeio: vasta alameda de arvores sombrosas, locaes frescos e agradaveis para desafogo, emquanto o leito aquoso offerecerá uma via de commercio aos lanchões, canoas e botes que poderão ir, com facilidade, até ao mercado da praça Garibaldi. O dever do presente é remediar os erros do passado e cogitar do futuro. O municipio está dirigido por espirito adiantado, que bem pode avaliar quantos serviços poderá prestar a estrada movente do riacho, removendo-se os impedimentos que embaraçam a navegação. S s. que se digne examinar, pensando e refletindo sobre os numerosos inconvenientes da edificação da margem direita do Riacho, para, desde já, cogitar sua melhora.”
Zero Hora do dia 29 de outubro de 2010 noticiava:
O Riacho e sua Ponte
“Arroio Dilúvio é um dos cursos d’água mais expressivos da geografia de Porto Alegre, importante na história de sua população desde a chegada dos casais fundadores. O nome de Arroio Dilúvio daquele que era também chamado de Riacho, tem a ver com as tradicionais inundações provocadas por suas águas desde o início do povoamento. Só nos anos 40 do século 20, depois da mais terrível das enchentes da cidade, deu-se andamento à canalização das águas do Riacho, quando também surgiram as duas faixas da Avenida Ipiranga.
A Ponte de Pedra é, no entanto, anterior à canalização. Foi mandada construir pelo Conde de Caxias, presidente da Província, logo depois do fim da Guerra dos Farrapos (1835-1845). As duas últimas fotos desta página são dos anos 30 do século passado. Colaboração de Luiz Pedro Borgmann, de Porto Alegre.”
FONTES
1 Pereira, Antônio Álvares “Coruja”, Antigualhas – Reminiscências de Porto Alegre (Ed. Typographia do Jornal do Commercio, 1881, Pg. 9
2 Franco, Sérgio da Costa, Guia Histórico de Porto Alegre, Editora UFRGS, Quarta Edição 2006, Pg. 320.
3 Franco, Sérgio da Costa, Guia Histórico de Porto Alegre, Editora UFRGS, Quarta Edição 2006, Pg. 321.