Do Santa Cecília ao Petrópolis

Carla Simon

Quando tinha 11 anos, meu pai veio com uma notícia que eu sabia que iria mexer na minha vida: “vamos nos mudar”. Fiquei surpresa e triste, pois gostava muito da Santa Cecília. Todos os meus amigos estavam lá, a escola era quase do lado de casa, e tinha a igreja do padre Edgar onde fiz a primeira comunhão. Morávamos na Rua São Vicente, a duas quadras do Zaffari Ipiranga, uma do Xis Moita e meia da locadora Video Music Hall.

O prédio parecia uma colônia de férias. Com seus blocos e saguões, o GBOEX deixou saudade. Lá, quem mandava eram as crianças, e o parquinho lotava às 18h. Pesquisas com moradores eram feitas pelos pequenos para saber se podíamos pedir para o síndico construir uma piscina. No Halloween, aproveitávamos para nos vingar dos vizinhos chatos – e que, tínhamos a certeza, nunca tiveram infância.

Boas lembranças me fizeram tentar convencer meu pai de que não precisávamos nos mudar, afinal, eu tinha tudo o que queria por perto. A Banca do Villela, na esquina da Felipe de Oliveira com a Vicente da Fontoura, onde comprávamos as figurinhas dos álbuns. No Armazém Geral, logo em frente, comprávamos os presentes de amigos-secretos. Na época, era proibida de sair do Colégio Santa Cecília e ir ao Armazém para comprar doce. Minha mãe achava perigoso, já que tinha uma sinaleira para atravessar. Um dia, na saída da aula, fui ali com minhas colegas e, para meu azar, encontrei minha mãe. Ela ficou surpresa, e eu comecei a chorar porque ela tinha me descoberto.

A mudança para Petrópolis foi alegre para meus pais. Fomos para um bairro mais tranquilo, arborizado e tradicional – era o que meu pai dizia para nos convencer. Falava que iríamos gostar tanto de morar aqui quanto na Santa Cecília. Além do mais, a cinco minutos do nosso novo apartamento, ficava o condomínio GBOEX.

Hoje, moramos na Rua Faria Santos, em frente ao Petrópolis Tênis Clube, onde meu irmão menor passa as tardes jogando futebol e tomando banhos de piscina no verão. A academia do clube é muito frequentada por minha mãe, as quadras de tênis, por meu pai, em dias de folga, e o salão de beleza do Aquino Cabeleireiros, por mim.

É na Caverna do Ratão que colocamos a conversa em dia com os amigos. Saboreamos o delicioso lombinho com queijo do Barranco em reuniões de família. Na Praça Nações Unidas passeio com o meu cachorro, o Bidu, conhecido pela vizinhança.

Ninguém mais quis se mudar, passados quase nove anos. O bairro Santa Cecília ficará na lembrança de uma infância feliz, e o Petrópolis será onde eu vou morar por muitos anos ainda. O melhor de tudo é que posso transitar entre um e outro a qualquer hora.

FONTE:

Jornal Zero Hora de 21 de outubro de 2010